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Desmotivação ou preguiça?

A quarentena pode acentuar a tendência do seu filho a procrastinar.
Naira Passoni Naira Passoni Seguir Mai 17, 2020 · 7 mins leitura
Desmotivação ou preguiça?
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Que atire a primeira pedra quem nunca procrastinou na vida. Sabe aquela vontadezinha de deixar para amanhã o que podemos fazer hoje? Então, é natural para nós, seres humanos, essa tendência a deixarmos para depois aquelas tarefas mais difíceis e que nos exigem maior esforço. O problema é quando este “deixar para depois” se torna um hábito que prejudica a nossa vida a ponto de não conseguirmos gerir o tempo, os afazeres e as entregas.

A procrastinação pode acontecer em qualquer fase da vida, inclusive ainda criança. Se o seu filho se enrola para fazer as coisas que são necessárias, deixa para estudar apenas na véspera da prova ou tem ânimo apenas para fazer o que gosta, talvez ele precise de orientação para concluir as atividades e cumprir os compromissos pré-estabelecidos.

Somando essas características ao isolamento, neste momento de quarentena, o problema pode se acentuar e ficar mais evidente para os pais, que agora passam 24 horas com os filhos. “No início do isolamento, as crianças se divertiam em casa, brincavam e até mesmo os pais estavam mais calmos. Com o passar das semanas, o que era divertido virou chato, os recursos acabaram, os brinquedos não são mais legais e o caos tomou conta da casa”, observa a Neuropsicóloga Infantil Bruna Moreira. “Essa situação afeta a família de forma geral e, consequentemente, as crianças demonstram comportamentos inesperados, o que deixa os pais ainda mais cansados e irritados com toda a situação”.

É preciso, antes de mais nada, separar o joio do trigo, vamos assim dizer. A falta de interesse pelas tarefas corriqueiras pode ser decorrente do tédio que a quarentena trouxe às crianças ou pode ser uma característica anterior a esse período. Entender essa diferença é importante no manejo da situação.

Os pais precisam analisar os filhos em relação às suas atividades para entender se o desinteresse está relacionado ao momento ou é mesmo um comportamento que se repete em situações consideradas normais. Procrastinar uma ou duas vezes, de vez em quando, é normal. Mas quando os sinais forem mais significativos e repetitivos é importante procurar ajuda de um profissional. «Bruna Moreira»

E o momento atual é oportuno para que os pais entendam melhor seus filhos e busquem ajuda, se for o caso. Alguns padrões de comportamentos podem ser observados em casa. Por exemplo, se antes a criança fazia as tarefas feliz e atualmente se recusa a fazer, demonstra um comportamento mais triste ou, ainda, se ela tinha costume de falar bastante e agora está mais quieta, isso pode ser reflexo do isolamento e é possível que ela esteja desmotivada ou até mesmo com depressão. Por outro lado, é possível que uma criança já apresentasse alguns sinais de procrastinação antes da quarentena mas, devido a correria do dia a dia, os pais não percebiam e agora isso se evidencia.

Organização

De qualquer forma, para ajudar a criança que é mais distraída ou está desmotivada a chave está na organização do tempo e das suas atividades, sendo prioridade para os pais criarem uma rotina para ela. “Sempre é bom lembrar que o isolamento não é férias, então manter a rotina é o primeiro passo para que pais e filhos não caiam na procrastinação. É necessário elaborar todas as atividades em uma folha mesmo de forma simples, e colocar uma média de tempo de execução”, diz Bruna.

Cumprir os horários faz com que a criança se encontre no tempo, foque nas atividades escolares, almoce em família e tenha seu tempo de lazer. Reforço a importância dos pais seguirem a rotina e delegarem as atividades. «Bruna Moreira»

Outra dica da especialista é que durante as atividades escolares, os pais analisem seus filhos, ajudem a resolver os exercícios que demonstraram dúvidas, busquem junto com eles os recursos na internet de forma lúdica para que consigam aprender da forma mais divertida.

A criança também precisa de momentos de lazer. Por isso, não esqueça de deixar na organização das atividades um bom tempo para que ela brinque, desenhe, corra, cante. Cabe até mesmo espaço para os jogos e a TV, mas sem excessos e com alguns cuidados. Muitos desenhos e games têm algo bom a oferecer para a aprendizagem da criança, além de entretenimento. Mas os pais precisam ser bem seletivos e criteriosos nas escolhas e sempre estarem atentos. “Em alguns casos, esses recursos podem ser utilizados como recompensas extras devido a execução de atividades obrigatórias”, sugere Bruna. “Por exemplo: Diariamente a criança tem X horas de games, TV que faz parte da rotina como lazer. Mas quando cumpre tarefas de casa, tarefas escolares e outros que os pais escolham podem ter mais X horas de games, TV ou eletrônicos como bônus”, explica. Mas, não adianta falar para a criança que ela só pode ficar 30 minutos no game sendo que os pais ficam 3 horas no celular vendo entretenimento. Ser cauteloso e justo e dar o bom exemplo é fundamental.

Algumas dicas para combater a preguiça e a procrastinação

  • Avalie-se. Veja se o seu comportamento tende também a procrastinar as coisas e tente melhorar. Lembre-se que os filhos nos observam a todo momento.
  • Coloque algumas responsabilidades diárias para a criança como fazer a cama logo após acordar, tirar o prato da mesa após as refeições, levar o cachorro para passear, etc.
  • Faça uma lista com os afazeres do dia, com horários marcados para a execução das tarefas. Para ser mais visual, faça também um mural semanal com as tarefas que a criança deve fazer e estabeleça um sistema de recompensas pelo cumprimento das tarefas: pode ser uma sessão extra de TV, um mimo especial, uma caixinha com moedas, etc.
  • Valorize a ajuda dela para fazer as coisas que solicita, mostre o quanto essa colaboração é importante para o funcionamento da casa.
  • Mantenha as tarefas de forma contínua e constantes. Não abra mão do combinado.
  • Elogie as pequenas conquistas da criança.

Mentoria

Para aqueles pais que já tentaram de tudo e mesmo assim não conseguem mudanças significativas no comportamento dos filhos, um caminho é buscar uma mentoria com especialistas.

A mentoria realizada com os pais é uma peça chave para ajudar a encontrar recursos conforme a demanda da criança. Muitas vezes os pais não entendem certos comportamentos e precisam recorrer a ajuda de especialistas para saber lidar com os filhos. E está tudo bem! Aliás, estamos falando do cérebro de uma criança em desenvolvimento e a cada dia novos comportamentos aparecem. «Bruna Moreira»

Juntos, especialista e família, é possível encontrar estratégias para aumento do autocontrole, maior entendimento sobre o cérebro da criança, seu mundo interno e seus movimentos. De acordo com Bruna, os pais aprendem técnicas práticas e facilmente aplicáveis para lidar com suas próprias emoções e auxiliar os filhos no entendimento deles. “Muitas vezes a criança não sabe se expressar em palavras e a forma que ela encontra para se comunicar com o adulto é demonstrada por meio do seu comportamento”, finaliza.

A Dra Bruna Moreira é Neuropsicóloga Infantil & Psicóloga Jurídica. Apaixonada pela neurociência e a mente humana ela se dedica a ajudar pais e filhos a despertar o poder da Inteligência Emocional reestruturando sua melhor versão.

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Naira Passoni
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Mãe, jornalista, autora, produtora de conteúdo... Em busca de respostas para as dúvidas da maternidade e da vida profissional. Aqui, quero dividir com outras pessoas as experiências e expectativas dessa jornada incrível e complexa! 😉