Quando o sobrinho mais velho da empresária curitibana, Cristiane França, tinha apenas seis anos de idade pediu a ela uma viagem para o Japão. Viajante de primeira e tia coruja, ela combinou com o menino que quando ele fizesse dez anos os dois iriam juntos para a terra do sol nascente. Dito e feito, no décimo aniversário dele os dois embarcaram nessa aventura para o outro lado do mundo! Em uma conversa com o
Desde a viagem já se passaram cinco anos e, hoje, o então menino já é um adolescente de 15 anos! A curiosidade do sobrinho pelas viagens da Tia Cris e a proximidade dos dois foi o ponto de partida para o começo dessa história que reforça a importância dos laços afetivos entre tios e sobrinhos. “Meu sobrinho sempre foi muito curioso, daquelas crianças que amam ficar na sala ouvindo histórias de adulto”, conta a tia. “Cada vez que eu chegava de viagem ele queria ouvir todas as histórias, ver as fotos e fazer mil perguntas. Quando ele tinha seis anos, me perguntou se quando ele fizesse dez eu poderia levá-lo ao Japão, o que foi uma grande surpresa para mim”, confessa.
Começava então o planejamento da viagem, quatro anos antes do embarque, com um acordo entre os dois que permitiu a ela se organizar financeiramente e a ele entender o real valor da viagem. “Eu prometi que iria com ele, quando fizesse dez anos. Mas nosso combinado foi que, a partir daquele dia, todos os presentes de aniversário, Natal etc, seriam convertidos numa poupança até a data da viagem”.
Cristiane conta que apesar de ainda novo, o sobrinho já sabia muito sobre o que gostaria de ver. Então, ela comprou um Lonely Planet do Japão, que é um guia visual, e juntos planejaram a viagem e organizaram o roteiro. “É legal conhecer os interesses da criança e deixar que ela ajude no roteiro, se envolva. A viagem toda foi planejada pensando nele, o que seria legal para um menino da idade dele e principalmente levando em consideração os interesses dele”, diz. “Organizei tudo sozinha, sem agência de viagens, pedindo dicas de amigos, lendo guias e buscando informações na internet. Ele sabia de alguns lugares de Tóquio que queria conhecer e também queria ir para Kyoto”.
Como o destino dos dois previa uma viagem muito longa e o menino era ainda pequeno, Cristiane resolveu “quebrar” a viagem com uma parada na Holanda e escolheu a companhia aérea de acordo com essa primeira parada. “Fomos via Amsterdam, voando de KLM. Comprei as passagens direto no site da companhia. Eu já tinha ido algumas vezes para Amsterdam e achei que seria bom começar a viagem por lá”, diz. “Além do mais, eu tinha um sonho que ninguém nunca tinha topado, que era ficar em um casa barco. Procurei no Airbnb e achei uma casa barco que parecia legal e era bem localizada”, complementa. Na Holanda, as casas barco tem sua localização fixa porque ficam estacionadas e são plugadas nas paredes do canal pelos canos de saneamento e energia elétrica.
Antes do embarque Cristiane cuidou da documentação para a viagem. Próximo ao aniversário do sobrinho ela providenciou uma autorização, em Português, assinada pelo pai e pela mãe da criança e autenticada em Cartório. Segundo ela, foi a única burocracia, além do passaporte e da documentação de praxe do sobrinho, necessária para a viagem. “Quando chegamos na Holanda, o oficial perguntou se ele era meu filho eu falei que era meu sobrinho e apresentei a autorização assinada pelos pais. O oficial perguntou nosso destino final e disse que talvez no Japão pudéssemos ter problemas por causa do idioma do documento, mas lá também foi tranquilo”, explica.
Parada em Amsterdam
Os dois ficaram três dias em Amsterdam antes de partir para Tóquio. Quem pensa que pelas características da capital Holandesa esse roteiro é estritamente adulto está enganado, pois há atrações interessantes para as crianças. “Visitamos o Nemo Science Museum, um museu interativo para crianças, super interessante, que fica numa construção dentro da água e é em formato de navio”, diz Cristiane. “Andamos de bicicleta para cima e para baixo, visitamos o Museu dos Canais, Museu Van Gogh e a Casa da Anne Frank”, diz. “Do lado da casa da Anne Frank tem uma igreja católica que no verão abre a torre para visitação, subimos até o alto e ver Amsterdam de cima foi incrível”, conta a empresária. Para lidar com a curiosidade do menino pelas peculiaridades locais, Cristiane conta que seguiu a filosofia dos pais que sempre falam a verdade. “Acho que agora, na adolescência, ele deve se divertir de contar para os amigos que conheceu Amsterdam com a tia”, se diverte.
Sol Nascente
Se a primeira parte da viagem era um porto seguro, pela experiência anterior, o Japão seria uma novidade para os dois. Por isso, a empresária conta que precisava se sentir segura e ter certeza de que ela e o sobrinho ficariam bem. “Pedi dicas para um amigo que conhece bem Tóquio e ele me indicou um hotel bom e bem localizado. Era caro, mas como eu estava com o menino não quis correr riscos de ficar em um hotel ruim”.
Para mostrar que nem sempre o que planejamos dá certo, e que isso é normal, Cristiane conta que a escolha de um voo diurno de Amsterdam para Tóquio, por causa do fuso-horário, foi uma furada. “Voamos na hora do almoço, achando que dormiríamos à noite porque o voo chegava em Tóquio na manhã do dia seguinte. Mas qual foi nossa surpresa a medida em que as horas de vôo avançavam?”, conta. “Os voos sempre fazem o caminho mais curto e dos Países Baixos para o Japão a rota mais rápida é passando por cima da calota polar. Ou seja, no verão não anoitece em momento algum e nós chegamos em Tóquio virados sem conseguir dormir nem um segundo”. Fica, então essa dica interessante para quem está se programando para ir ao outro lado do mundo.
Apesar da distância e da viagem cansativa, Tóquio é um oásis tecnológico para crianças. “Chegamos em Tóquio e fomos direto para Akihabara, o bairro dos games, lugar onde ele mais queria ir. Vimos Cosplays por todos os lados, prédios de fliperamas e jogos eletrônicos com andares e mais andares ligados por escadas rolantes”, conta empolgada. “Sem contar que Tóquio é uma Megalópole que nunca para, a cidade não dorme, saímos a pé de madrugada, com toda segurança, com muitas pessoas na rua e com o comércio todo aberto. É uma experiência incrível mesmo”.
A organização da cidade foi algo que chamou muito a atenção da dupla. “Gostei muito do sistema de metrô, porque você consegue chegar com facilidade em qualquer lugar e tudo é muito organizado. Tem lugar certo para andar na calçada. Se você está indo, voltando, ou no celular. É muito legal”, diz Cristiane. O bairro preferido do sobrinho, claro, foi Akihabara, por causa dos jogos eletrônicos. “Tem um monte de maquininhas, daquelas de moeda, que você ganha alguma coisa dentro de uma bolinha de plástico. Outras tem só fliperama, ou aquelas máquinas de pescar bichinhos de pelúcia. É uma pira”, conta o adolescente. “Ah, tem as lojas que vendem telefone, joguinhos, coisas eletrônicas e os outdoors nos prédios têm voz. Vozes eletrônicas falam com você enquanto anda na rua. E tem também um monte de cosplay, que são aquelas pessoas (adolescentes normalmente) vestidos como personagens. É muito legal”.
É bem verdade que em algumas viagens certas coisas não são como imaginamos. Em relação a comida, por exemplo, Cristiane conta que apesar de sushi e peixe cru serem um dos pratos preferidos do sobrinho, a história por lá foi bem outra. Se por aqui os sushis são adaptados ao nosso paladar, no Japão é comida raiz, tradicional mesmo, o que gerou uma certa frustração na criança. “Somos loucos por comida japonesa, por isso a expectativa, principalmente do meu sobrinho, era muito grande. Porém, o sushi de lá é muito diferente do nosso, não tem essa de pedir um Hot Filadélfia com cream cheese, os pedaços de peixes são enormes, alguns servidos com casca, com um sabor diferente para o nosso paladar”. A saída deles, neste caso, foi apelar para fast foods e, como curiosidade ela sugere uma cadeia de lanchonetes que serve os sushis numa espécie de trem-bala, os shinkansens. “O bacana é que faz os pedidos em um tablet e a comida é rapidamente servida nesses trenzinhos”, diz Cris.
Em Kyoto
A viagem prosseguiu para Kyoto, antiga capital do Japão, cidade dos templos clássicos budistas, jardins, palácios imperiais, santuários xintoístas e casas de madeira tradicionais japonesas, que fica a pouco menos de 500 km de Tóquio. “Em Kyoto nós fizemos os passeios básicos nos templos. Foi muito legal, visitamos o Fushimo Inari Taisha Shrine, que é feito de portais japoneses, um seguido do outro, com frases escritas por quilômetros e mais quilômetros até chegar ao topo do morro, e ao Kiyomizu-dera Temple — que fica no alto da montanha com uma vista incrível e, por fim, fomos ao Templo dourado”, conta Cristiane. “Fomos também a um parque de diversões que é um estúdio, o Toei Kyoto Studio Park, onde gravam as séries de TV, o cenário é como a vila do período pós Edo, que funciona também como parque de diversões. Lá também é possível se vestir de Cosplay e tirar fotos em muitos cenários legais”, completa o sobrinho.
Os dois foram e voltaram muito bem, para alívio da tia, e dos pais, pois viajar com o filho dos outros é coisa séria. “A gente fica com medo de algumas coisas, medo que alguém se machuque, medo de perder a criança, passa mil coisas na cabeça”. Mesmo assim, ela afirma que foi a melhor coisa que fez pelo sobrinho e que até hoje a viagem rende muito assunto entre eles. Além dos passeios e da experiência incrível, ela destaca a responsabilidade e a autonomia que deu ao sobrinho durante a viagem. Diferentemente dos pais que cuidam de tudo para os filhos, ela diz que nesta viagem o menino aprendeu a cuidar das suas coisas, desde ficar de olho na mala durante os deslocamentos, fazê-la e desfazê-la nos hotéis, separar a roupa suja e administrar o próprio dinheiro para que durasse até o retorno. “Eu cuidei dos documentos e ele cuidou de todo o resto, e foi uma forma de mostrar a ele como ser um viajante mesmo, a responsabilidade e os cuidados que se deve ter”, conta. “Hoje, com 15 anos ele já começa a viajar sozinho e tenho certeza que por meio dessa experiência e outras que vieram depois, ele está bem preparado para conhecer o mundo”, conclui.
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